Poucos minutos após o governo Maduro declarar vitória nas eleições venezuelanas de 28 de julho, a China parabenizou ele sobre “sua reeleição bem-sucedida” e pela “eleição presidencial tranquila”. A China apressou-se em dar seu veredito, embora, de acordo com o governo, apenas 80% dos resultados tivessem sido divulgados – o que significa que pelo menos mais 2 milhões de votos ainda não haviam sido contados.
A reação da China foi rejeitada por todos os países latino-americanos, exceto Bolívia, Nicarágua, Honduras e Cuba. A China também está em desacordo com o principal parceiro do BRIC, o Brasil, e seus parceiros do Cinturão e Rota, Chile, Peru, Equador e Uruguai. As principais potências econômicas do continente – Argentina, Chile, Colômbia e Brasil – têm pediu provas do que eles consideram uma alegação fraudulenta de vitória. Até o México, famoso por ficar fora de controvérsias, pediu para ver os registros de votação do Conselho Eleitoral.
A última pesquisa foi considerada uma irregularidade eleitoral pelo Centro Cartero Organização dos Estados Americanose a UE. O jornal New York Times relatado que viu uma lista representativa das contagens eleitorais reais mostrando a oposição com 66% dos votos.
Por que a China se aliou tão rapidamente a um governo venezuelano que presidiu um desastre econômico prolongado? A China valoriza acima de tudo uma capacidade demonstrada de administrar uma economia. Uma razão é a natureza precária do vasto portfólio de empréstimos que a China tem com a Venezuela – quase metade de todos os empréstimos chineses à América Latina e ao Caribe. A Venezuela comprometeu-se a pagar a China com petróleo, cujo montante tem variado dependendo do seu preço.
Pode não ser surpreendente que a China tenha virado as costas para um consenso latino-americano em favor de um regime venezuelano que ela apoiou por 25 anos. Mas os tempos mudaram na América Latina desde que Hugo Chávez foi eleito em 1998. A China agora quer influenciar todo o continente. Ela é o principal parceiro comercial de todos os principais países da região, exceto o México. E 22 dos países da América Latina são participantes da Iniciativa Cinturão e Rota da China. No entanto, a China demonstrou pouca preocupação com o impacto regional do governo de Maduro.
Os países vizinhos não compartilham a visão da China de que sua “parceria estratégica” beneficiou a Venezuela. Eles veem os 8 milhões de venezuelanos que deixaram o país; muitos estão deslocados e vivendo no Peru, Colômbia e Equador. Esses países sofreram influxos massivos de imigrantes, sobrecarregando suas economias. A China não fez nada para ajudar.
A Venezuela vem tentando se juntar à organização BRICS. Outro membro convidado para o BRICS – Argentina – condenou veementemente a conduta de Maduro. Dentro do BRICS, a África do Sul e a Índia ainda não reconheceram Maduro. Ambos os países tiveram recentemente eleições livres e geralmente justas, onde os partidos de oposição ganharam força. Outros membros do BRICS, como Emirados Árabes Unidos e Egito, ficaram do lado do Brasil em não aceitar os resultados. Então, nessa questão, a China, ao lado da Rússia e do Irã, faz parte de uma pequena minoria no BRICS, um grupo que costuma ser considerado dominante.
O que está vinculando os países da América Latina na rejeição da fraude eleitoral na Venezuela? A China não parece estar ciente de que em todos os principais países da América Latina, pessoas com 50 anos ou mais se lembram de governos militares. Elas têm conhecimento pessoal da repressão e prisão e dos “desaparecidos” que vêm com tais regimes. Em 1977, todos os países da região, exceto quatro, estavam sob ditaduras militares. Uma das exceções foi a Venezuela. Quando servi na Venezuela como diplomata na década de 1990, ela havia acolhido muitos refugiados de tais ditaduras no Brasil, Chile e outros lugares.
Portanto, os líderes e eleitorados latino-americanos não gostam de resultados eleitorais fraudados porque, quando os governos perdem a responsabilidade, coisas ruins acontecem.
Se a China quiser construir sua influência na América Latina e tentar criar um verdadeiro “século asiático” em todo o mundo, ela precisa mostrar mais desenvoltura diplomática. A atração da China como parceira diplomática se deve em grande parte ao seu sucesso econômico. Por que então eles atrelariam seu vagão a sistemas econômicos fracassados como Venezuela e Cuba?
Pequim também está lutando com sua diplomacia no conflito Rússia-Ucrânia, onde um aliado chinês, a Rússia, invadiu outro parceiro-chave da BRI, a Ucrânia. E os esforços da China para reconciliar o Irã com a Arábia Saudita fracassaram amplamente, pois a estabilidade econômica e a paz que a China almeja para ambas as regiões fracassaram.
A China depende do comércio e investimento globais. Ela tem assuntos mais importantes para resolver na América Latina do que reforçar um regime fracassado na Venezuela.