A Indofarma é uma fabricante estatal de suprimentos médicos e medicamentos. No que diz respeito às empresas farmacêuticas na Indonésia, não é um problema particularmente grande. Em 2019, utilizando as taxas de câmbio atuais, a Indofarma teve um lucro líquido de 3,2 milhões de dólares sobre receitas de 85 milhões de dólares e cerca de 32 milhões de dólares em capitais próprios. No seu último registo financeiro, que cobre o período encerrado em junho de 2023, a Indofarma reportou um património líquido negativo de 2 milhões de dólares e um prejuízo líquido de 7,5 milhões de dólares.
Parte da reviravolta na sorte da Indofarma pode ser atribuída à má gestão. Nos últimos anos, teve de sofrer grandes amortizações em inventários não vendidos e contas a receber não pagas devidas à Indofarma por diversas partes. Parece que durante a pandemia a empresa produziu em excesso ou adquiriu demasiados stocks e também concedeu crédito a determinados clientes quando provavelmente não deveria.
Outras empresas farmacêuticas estatais da região, como a Pharmaniaga da Malásia, enfrentaram dificuldades financeiras semelhantes durante e após a pandemia. A Pharmaniaga sofreu grandes prejuízos depois de comprar demasiadas vacinas contra a COVID-19, que não foram vendidas e acabaram por expirar. A Indofarma não foi um interveniente importante no programa de vacinação da Indonésia, mas a turbulência desse período em geral parece ter levado a administração a interpretar mal o mercado e a incorrer em perdas substanciais.
Mas os problemas da Indofarma vão além das más decisões de gestão tomadas no curso normal dos negócios. A empresa é atualmente alvo de inúmeras investigações sobre a precisão dos seus relatórios financeiros, bem como de outras ações fraudulentas. Isto inclui alegações de que, entre outras coisas, a empresa estava envolvida em atividades de empréstimo online e na reserva de vendas fictícias. O regulador dos serviços financeiros, juntamente com a agência de auditoria estatal e o procurador-geral, estão agora a analisar estas questões.
A trapaça financeira da Indofarma ecoa um caso semelhante na indústria mineira, onde foi descoberto que a mineradora estatal de estanho PT Timah estava a permitir que empresas privadas operassem ilegalmente nas suas concessões mineiras. Tal como a PT Timah nesse caso, a Indofarma também foi recentemente consolidada sob a égide de uma holding estatal maior chamada Bio Farma. Foi a Bio Farma, que tem um balanço muito mais saudável, que concedeu um empréstimo accionista à Indofarma e permitiu-lhe permanecer solvente por enquanto.
Juntamente com o retalhista Kimia Farma, estas três empresas pretendem formar a espinha dorsal de uma rede de produção e distribuição biomédica e farmacêutica na Indonésia, que será operada pelo Estado e se concentrará em atividades de alto valor acrescentado, como o desenvolvimento de vacinas e outras pesquisas biomédicas. A fusão destas empresas deverá permitir ao Estado controlar melhor o desenvolvimento da indústria de uma forma que não pode fazer quando operam sob a sua própria direcção e sem uma visão estratégica partilhada.
A PT Timah fez parte de uma consolidação semelhante de activos mineiros estatais sob uma holding chamada MIND ID. Tal como naquele caso, quando a Indofarma ficou sob controlo e supervisão estatal mais rígidos e quando começou a registar perdas, o governo intensificou o seu escrutínio e descobriu esta longa lista de actividades fraudulentas.
A presença relativamente pequena da Indofarma na indústria limita a extensão em que esta má conduta financeira poderá repercutir-se na economia em geral ou no sector farmacêutico.
O Ministro das Empresas Estatais, Erick Thohir, que exerce uma influência substancial no actual governo, retratou isto como uma prova de que o Estado indonésio está a trabalhar para limpar e reforçar a supervisão das principais empresas estatais em sectores estratégicos como a biomedicina e a mineração. Provavelmente há muita verdade nesta afirmação, uma vez que o fundo de investimento estatal da Indonésia investiu recentemente na Kimia Farma.
O objectivo a longo prazo é obviamente usar a Bio Farma e a Kimia Farma como canais para canalizar mais investimento estrangeiro (e presumivelmente colaboração em tecnologia e investigação) para a indústria biomédica e farmacêutica nacional. O sucesso de tal plano dependerá fortemente de a indústria ser vista como transparente, confiável e competente. Limpar uma empresa relativamente pequena e com baixo desempenho como a Indofarma é uma parte óbvia, mas importante, desse processo.