Por que as Filipinas escolheram privatizar seu maior aeroporto

O Aeroporto Internacional Ninoy Aquino (NAIA) em Manila é o maior aeroporto das Filipinas e a principal porta de entrada internacional para o país. É um aeroporto movimentado, com quase 31 milhões de passageiros em trânsito em 2022 e mais de 45 milhões em 2023. Construído para lidar com cerca de 32 milhões de passageiros por ano, o NAIA já está com capacidade acima do normal, mesmo com a expectativa de que a demanda por viagens aéreas continue aumentando nos próximos anos.

O NAIA, que desde 1982 é administrado por uma corporação governamental chamada Manila International Airport Authority, também é frequentemente classificado como um dos piores aeroportos da região, atormentado por atrasos de voos e outros problemas operacionais. No ano passado, por exemplo, vários funcionários foram pegos extorquindo dinheiro de um turista que estava passando pelo aeroporto.

O governo está ciente desses problemas e decidiu que a melhor maneira de consertá-los é recorrer ao setor privado. O NAIA foi alvo de esforços de privatização no passado, mas foi a administração Marcos que finalmente fez o processo rolar a sério no ano passado, com várias empresas concorrendo a uma concessão de 15 anos para operar o aeroporto.

A concessão foi concedida à San Miguel Corp (SMC), um conglomerado massivo que abrange grande parte da economia filipina. A San Miguel é bem conhecida por sua marca global de cerveja, mas tem interesses em uma ampla variedade de setores, incluindo imóveis, energia, petróleo e infraestrutura de transporte.

Além de operar uma série de vias expressas e sistemas de transporte público nas Filipinas, a SMC está atualmente desenvolvendo o Novo Aeroporto Internacional de Manila, que está localizado a cerca de 35 quilômetros ao norte de Manila e está programado para estar operacional em 2027 ou por aí. Agora, além de desenvolver o novo aeroporto internacional de Manila, a SMC tem o direito de operar o antigo aeroporto internacional por um período de 15 anos, com uma possível extensão de 10 anos.

O acordo, à primeira vista, parece ser extremamente favorável ao governo. De acordo com os termos da concessão, a SMC (que está fazendo parceria com o aeroporto de Incheon, na Coreia do Sul) investirá pesadamente na reabilitação do NAIA. De acordo com relatos da mídia, o acordo exige que a SMC invista 88 bilhões de pesos filipinos (cerca de US$ 1,5 bilhão) em atualizações nos primeiros seis anos e aumente a capacidade de passageiros do aeroporto para 62 milhões.

O lado financeiro do acordo também é muito generoso para o governo, com a concessão estruturada de tal forma que cerca de 60 por cento da receita anual irá diretamente para o estado. Os outros licitantes, incluindo a operadora existente Manila International Airport Authority, estavam bem abaixo disso, oferecendo divisões de receita em algum lugar na faixa de 25 a 35 por cento. Além disso, a SMC deve pagar uma taxa inicial de 30 bilhões de pesos, o que é cerca de US$ 500 milhões.

O interessante é que, apesar de sofrer de subinvestimento crônico e má gestão, o Aeroporto Internacional Ninoy Aquino tem sido historicamente um ativo lucrativo para o governo nacional. Sob seu antigo acordo com a Autoridade do Aeroporto Internacional de Manila, o governo pegava 20 por cento da receita bruta do aeroporto e pelo menos 50 por cento de sua renda líquida anual como dividendo.

Incluindo impostos e outras taxas repassadas aos passageiros, a NAIA gerou cerca de 6,75 bilhões de pesos (US$ 115 milhões) para o estado em 2023. Obviamente, o governo acredita que, sob gestão privada, os lucros serão maiores e agora também estará livre das dispendiosas despesas de capital necessárias para modernizar o aeroporto.

Alguém pode se perguntar como exatamente a SMC planeja investir bilhões de dólares na modernização de um aeroporto antigo, ao mesmo tempo em que oferece ao governo uma divisão de receita muito generosa, e ainda obter lucro. Essa é uma boa pergunta e o plano, seja ele qual for, muito provavelmente envolverá preços mais altos, com o Departamento de Transportes já anunciando que vários aumentos de taxas começariam a entrar em vigor no final deste ano. Os inquilinos e empresas existentes no aeroporto também estão esperando aumentos de custos conforme a nova administração assume.

As Filipinas, mais do que muitos de seus vizinhos, frequentemente demonstram disposição para entregar infraestruturas essenciais, como eletricidade, água municipal e agora seu maior aeroporto internacional, para atores do mercado privado. Isso frequentemente resulta em preços mais altos para os consumidores, o que é, claro, parte da troca quando você usa o setor privado para fornecer e gerenciar infraestrutura crítica. Considerando os problemas operacionais bem registrados da NAIA e a relutância ou incapacidade do governo de investir os fundos necessários para atualizá-la, neste caso, pode ser uma troca que vale a pena fazer.