Shein e Temu, gigantes do varejo ultrabarato e ultrarrápido, podem estar enfrentando uma nova realidade sob as regras propostas pela Casa Branca na sexta-feira.
Essas empresas se tornaram grandes vendedoras de roupas e produtos para o lar enviados da China para os EUA. E ambos os varejistas on-line têm operado de forma diferente da maioria dos outros grandes varejistas, usando uma brecha fiscal que lhes economizou milhões de dólares em taxas de importação.
Em vez de trazer grandes remessas para armazéns dos EUA a granel, a Shein e a Temu enviam pequenos pedidos individuais diretamente para compradores americanos. Isso significa que esses pacotes podem pular legalmente os impostos de importação porque a lei dos EUA isenta remessas abaixo de US$ 800 do imposto de importação.
O governo Biden agiu na sexta-feira para fechar essa brecha para produtos que enfrentam tarifas, incluindo a maioria das roupas e tecidos enviados da China.
O volume dessas remessas diretas ao consumidor que usam a brecha do imposto de importação — chamada de “de minimis” — aumentou. No ano passado, mais de 1 bilhão de pacotes foram enviados para os EUA, em comparação com 140 milhões há uma década, de acordo com autoridades da Casa Branca. Eles não nomearam Shein e Temu diretamente, mas as remessas de ambas foram responsáveis por grande parte do aumento.
A Casa Branca diz que essa escala de produtos que passam pela brecha prejudica trabalhadores, varejistas e fabricantes americanos, além de dificultar que autoridades governamentais garantam que os conteúdos sejam legais e sigam todas as regras de saúde, segurança, propriedade intelectual e proteção ao consumidor.
Outro problema é o fentanil. Esta semana, 126 legisladores democratas pediram ao presidente Biden que usasse a autoridade executiva e encerrasse a isenção de imposto de importação. Eles dizem que a brecha permite que importadores estrangeiros não apenas evitem tarifas, mas também enviem narcóticos e equipamentos de processamento de drogas sem inspeções alfandegárias mais rigorosas.
A Casa Branca propôs regras para impedir que a isenção se aplique a bens que enfrentam certas tarifas ou ações de execução comercial. Outra regra proposta também exigiria mais papelada e dados sobre cada pacote que busca a isenção, incluindo certificados de conformidade submetidos à Consumer Product Safety Commission.
Tanto Shein quanto Temu disseram na sexta-feira que a brecha na importação não foi essencial para seu sucesso.
Com roupas e decoração para casa que custam apenas US$ 15 ou até US$ 5, a Temu e a Shein atraíram os consumidores americanos e se tornaram alguns dos varejistas de crescimento mais rápido nos EUA.
Seus sites postam dezenas de milhares de novos produtos todos os dias; eles normalmente não entram em produção até que pessoas suficientes cliquem para comprar. A maioria das compras é enviada diretamente do fabricante para a porta do comprador.
“Nossa missão tem sido oferecer aos consumidores uma seleção mais ampla de produtos de qualidade a preços acessíveis”, disse um porta-voz da Temu em uma declaração. “Conseguimos isso por meio de um modelo de negócios eficiente que elimina intermediários desnecessários, permitindo que repassemos as economias diretamente aos nossos clientes. O crescimento da Temu não depende da política de minimis.”
As operações da Temu são baseadas na China, onde ela enfrentou alegações de uso de trabalho forçado. A Shein tem sede em Cingapura; seus executivos disseram à NPR que alguns dos fabricantes da empresa — cerca de 5.000 — também estão sediados no Brasil e na Turquia, embora a maioria permaneça na China.
O presidente executivo da Shein havia falado anteriormente em apoio a uma reforma total da regra de minimis, sem defender uma abordagem específica.
“A Shein faz da conformidade com a importação uma prioridade máxima”, disse um porta-voz da Shein em uma declaração. “Nosso sucesso está ancorado em nosso modelo de negócios exclusivo sob demanda, que nos permite levar aos clientes os estilos que eles querem, de forma eficiente e a um preço acessível.”
O cronograma para as novas regras propostas pela Casa Branca não está claro. A administração também pediu ao Congresso que fizesse uma reforma abrangente da isenção comercial de minimis, que os legisladores têm há muito tempo em vista.
O objetivo original da isenção era proteger transportadores individuais e pequenas empresas, e muitas empresas de transporte se opuseram às mudanças na estrutura do imposto de importação.